Hoje trazemos para vocês leitoras do Bigmãe a apresentação de um site lindo e que sem dúvida alguma será de grande utilidade para a educação das crianças. Cristina Oliveira é a autora do projeto ESTÓRIAS DIFERENTES, um site rico em informação sobre Transtorno do Humor ou dificuldades de ensino e aprendizagem – com linguagem acessível para público leigo.

Vejam abaixo a trajetória de Cristina Oliveira e conheça como ela criou este projeto que ajudará muitas mamães através dos lindos personagens como o menino CHIDA que tem um temperamento muito variado, uma hora meio triste, meio devagar e noutro momento agitado; ou como a menina Zita, muito quietinha e que faz as coisas bem devagarinho.

Será que sou um E.T. ?
Sentir-se um ET não é uma coisa fora do comum. Muitas vezes, a sensação de inadequação é tanta, que a melhor explicação passa a ser a de que não somos deste planeta.
Durante minha infância, a ideia de ter sido adotada era muito forte. Oscilava nas minhas fantasias, que meus pais eram extra terrestres e me deixaram na terra; ou eram gente muito esquisita e eu tinha sido abandonada no meio das achas de lenha.
O sentimento de inadequação persistiu, mesmo tendo muitas amigas, participando das atividades escolares. Meu refúgio era um estado de magia interior, quando estava lendo. E como eu lia! Os contos me permitiam viajar pelo mundo, pelos planetas, sonhar e criar minhas próprias histórias…

Passei infância e adolescência como se estivesse viajando em um tapete mágico, muitas vezes, nada amigável. Da pró atividade que me comprometia com vários eventos e trabalhos – a primeira da classe, a líder (negativa para a madre superiora), para um mutismo e uma tristeza que me valeram o apelido de “manteiga derretida”. De gata de botas para a pequena borralheira.
As manifestações estudantis de 68 foram um apelo forte demais. Minha voltagem e comprometimento com a mudança do país, do mundo, extrapolaram os limites em um sonho libertário. A militância política, a vida fora do país, a atenção e o medo permanente foram gatilhos estressores dilacerantes. A inadequação atingiu o ápice.
A maternidade me trouxe foco e equilíbrio. Sobreviver ao retorno ao Brasil, ainda na época da ditadura, romper casamento falido, cuidar de 3 filhos sozinha, ser coerente no exercício da cidadania, cobraram um preço alto. Para continuar meu voo, no mágico tapete da vida, precisei beber muito. E foi a preocupação desse exagero e o compromisso em cuidar dos filhos que me fizeram procurar ajuda terapêutica.
E foi nesse processo – com psicóloga e psiquiatra – que finalmente, aos 44 anos, desvendei o meu lado ET! De alcoólatra, nada tenho – foi o recurso que encontrei para abrandar minha ansiedade e inadequação. Sou bipolar, tenho o que chamam – Transtorno do Humor.
Junto com o alívio de ser finalmente uma terrestre, houve o impacto de um diagnóstico de doença mental, que tem controle, mas ainda não tem cura. Não há poções mágicas. Há remédios estabilizadores do humor. E o desafio de lidar com os dragões internos; de conhecer as crises, de conviver com elas.
A informação é minha maior aliada. Sabendo o que tenho, sabendo as nuances ou possibilidades da tal inadequação – puro sintoma bipolar, posso lidar com a realidade. Sem deixar de vivenciar o que tem de bonito nesse conjunto que se chama EU – criatividade e enorme força guerreira! A doença não me define como pessoa. E eu lido com ela. E me trato.
E foi no retrospecto da minha vida que me dei conta de que, se eu soubesse o que eram aqueles sentimentos tão confusos e entrecortados, o meu caminho teria sido mais suave… eu teria sido a filha daquela minha família, não uma ET, mas uma bipolar.
E foi esse sentimento, que me impulsionou, agora como avó – a escrever. Relembrando meus dragões internos da infância, contando Estórias Diferentes, para os pequenos com dificuldades e inadequações.
Minhas histórias trabalham sentimentos , através de personagens que vivem em uma cidade encantada – Regolish – em uma floresta mágica chamada Rolls. Lá, personagens bipolares, depressivos, com TDAH, convivem com seus amigos, interagem na escola, na família e nos grupos. Há inclusão. E o principal, há a expressão de todos esses sentimentos que formam a teia de sintomas dessas doenças. É uma abordagem lúdica da doença mental.
Abaixo temos dois exemplos de passatempos que podem ser encontrados no site Estórias Diferentes, que poderá ser impresso e colorido pela criança. Esta
é uma das formas de fazer com que a criança reflita sobre sentimentos e situações; podendo se utilizado em casa, em sala de aula pelos educadores e nos consultórios de psicólogos!